sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um só dia e muitas noites

Aquele discurso fluido, essas palavras que saem tão facilmente, esses sentimentos tão difíceis de conter, e essa mesma vontade reprimida. A imposição de um fado, de uma tentativa constante de me submeter a certos desafios, nunca agradáveis, contrários ao ser. Fantasticamente, tornando agradável o mais duro martírio, numa frase de afirmação na qual digo que a espera será eterna, e que vivo bem como tal. Na realidade não, não vivo bem assim. O que me impôs escritas, o que me obrigou a riscar, a perder lágrimas sempre que valia a pena. Aprender a ser feliz com a solidão constante de portas fechas, de um estore que não abro, para não me assustar com a minha própria escuridão. Perdendo-me por devaneios acordados, louco de quem assim se sente; mas que sanidade existe no amor… mas contudo, como não parecer obcecado, viciado, se essas noites não passam, se as palavras tenho de as guardar, se tudo cresce cá dentro… como dói depois de acabar, como dói essa ausência, como dói o passar do tempo, como dói nos meus lábios, em todos os lados, solidão. Ouve a minha voz, sente o meu toque… enquanto houver memória é ai que eu vou estar, vê os meus desenhos, os meus riscos, sente o meu olhar é ai que eu estou. Nesse suave acariciar, no sentir desse doce respirar entrecortado… Naquelas noites vazias, e mais que isso, nesse doce acordar que se foi, e que enche os meus dias de memórias. E por muitas noites que passem, noites que conto religiosamente, obcecado talvez por toda essa falta de calor… obcecado talvez, por me ter perdido naquelas, por ter estagnado nessa noite, nesse toque, nesses suspiros, e em todos esses despertares.

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