sexta-feira, 10 de julho de 2009

Devaneio

As musicas que me acompanham, surgem de forma interessante, oiço uma, a letra toca-me, oiço outra, a letra é me familiar… todas parecem um pressagio, todas me avisam de algo, sendo que outras me relembram constantemente aquelas magoas passadas, que se sentem de forma tão presente.
A audição, que nos permite distinguir, sem aquele primeiro sentido, todas aquelas vozes que nos são tão queridas; tão calmantes essas palavras que precisamos ouvir, esse tom tão doce que se perdeu… reconhecer essa voz ao acordar, na completa escuridão de um estore fechado, a dizer tais palavras, doces como tu, doce como era a minha voz contigo… perdendo completa noção do tempo, e sem querer, hoje, relembrando uma tal música que me ensinou, que a primavera durava apenas um segundo, talvez fosse só nesse segundo, nessas quatro paredes, nessa escuridão silenciosa, o momento em que te despi, sem te tirar a roupa…
Os livros… esses, bem… quantas historias sobre mim já li!!! Imensas! Quando por palavras as videiras crescem, e se enleiam… naquele ponto em que se “isso” se tivesse passado teríamos sim de usar uma garrafa. Ou então uma estirpe, que cresce condenada a desgraça, simplesmente restando-me nada mais que perceber qual é o meu lugar e o meu destino, nesta completa escuridão, de um quase filho do sol. Cem anos de solidão… talvez isso, sim, talvez isso.
Depois os desenhos, que fantásticos são para mim, no momento em que os meus traços tão inesperadamente geram algo tão completamente impensado, sendo que por vezes acho que te desenho, que percorro o papel com o mesmo carinho que percorria essas curvas, e por vezes com a mesma ânsia com que as desejava.
Se aquilo que desenho é o que me vai na alma, não sei, sei simplesmente que não é forçado, surgem espontaneamente, tantas vezes por amor e tantas outras vezes por lágrimas que não valeram a pena, ou simplesmente são um conjunto de riscos que colhi juntamente com os frutos da tua ausência…

Um só dia e muitas noites

Aquele discurso fluido, essas palavras que saem tão facilmente, esses sentimentos tão difíceis de conter, e essa mesma vontade reprimida. A imposição de um fado, de uma tentativa constante de me submeter a certos desafios, nunca agradáveis, contrários ao ser. Fantasticamente, tornando agradável o mais duro martírio, numa frase de afirmação na qual digo que a espera será eterna, e que vivo bem como tal. Na realidade não, não vivo bem assim. O que me impôs escritas, o que me obrigou a riscar, a perder lágrimas sempre que valia a pena. Aprender a ser feliz com a solidão constante de portas fechas, de um estore que não abro, para não me assustar com a minha própria escuridão. Perdendo-me por devaneios acordados, louco de quem assim se sente; mas que sanidade existe no amor… mas contudo, como não parecer obcecado, viciado, se essas noites não passam, se as palavras tenho de as guardar, se tudo cresce cá dentro… como dói depois de acabar, como dói essa ausência, como dói o passar do tempo, como dói nos meus lábios, em todos os lados, solidão. Ouve a minha voz, sente o meu toque… enquanto houver memória é ai que eu vou estar, vê os meus desenhos, os meus riscos, sente o meu olhar é ai que eu estou. Nesse suave acariciar, no sentir desse doce respirar entrecortado… Naquelas noites vazias, e mais que isso, nesse doce acordar que se foi, e que enche os meus dias de memórias. E por muitas noites que passem, noites que conto religiosamente, obcecado talvez por toda essa falta de calor… obcecado talvez, por me ter perdido naquelas, por ter estagnado nessa noite, nesse toque, nesses suspiros, e em todos esses despertares.

Erros

São estes os dias da nossa vida, aqueles em que as coisas más eram tão poucas, as preocupações, insignificâncias, e o remorso não existia. Sentimento que nos dias de hoje se coadunam criando qualquer coisa de fantástico, capaz de influenciar as nossas atitudes da forma mais espantosa. Surpreendente de tal maneira, que os mais fascinados com essas atitudes somos nós. Rever por momentos esses pontos fulcrais sem retorno, marcados de forma latente no funcionar da memória, colidindo e mesclando-se até obrigar-nos a explodir… enche, enche, enche… e sem saber engorda a nossa mágoa, a nossa própria mágoa. O errante.
Olhas para traz e mudas-te, hoje o espelho mostra uma cara mais velha, uma cara mais fria. As tuas atitudes para com os outros mudam, simplesmente a inocência foi-se… com esta perda descobres a moral, e descobres também que esta é formada por um vasto conjunto de itens, que se alteram tanto quanto tu precisas. Aí descobres a moralidade duvidosa, e descobres que a podes manipular, manipular-te, e descobres também que ela te pode magoar, e que tu te podes magoar, e que podes magoar os outros; o tempo faz parte dela, a memória também… o problema é que deturpamos essas memórias com o passar do tempo, alterando constantemente essa moralidade.
A par de tudo, olhas para frente, trazes a mágoa do passado, trazes uma personalidade duvidosa que expressas através dessa moralidade… Olhas um pouco mais adiante, e o que vai ser de ti?! Um reflexo do passado, uma pessoa diferente… e não sabes o que será de ti, ficas com receio, a solidão, os erros… como assusta o desconhecido. Precisas de ajuda para continuar, alguém que te ajude a dar um passo, que esteja lá quando caíres, que te imponha uma moral correcta! E no final, para quê envelhecer, para quê saber mais, para quê perder toda a inocência… olhas bem para trás, pensas bem no futuro, e descobres que a única constante em todo esse percurso é, o amor.

A nós...

A ti!
A ti… a quem todos os dias quero regressar.
A ti… a quem troquei por uma amante inoportuna chamada soledad.
A ti… A quem pertence a minha boca.
A ti… a qual sabia que não era a mais bonita do mundo, mas juro-te que, eras mais bonita que qualquer outra.
A ti… que não querias dormir sozinha, e com quem eu queria dormir.
A ti… que estavas sozinha.
A ti… que tão pouco desfrutei do teu amor.
A ti… por quem tenho de escolher entre o esquecimento e a memória.
A ti… que quis que morresses por mim.
A ti… que não soube amar.
A ti… que querias que te mostrasse um mundo bom.
A ti… a quem me dei sempre que quiseste.
A ti… por quem teço um amor eterno.
A ti… com quem errei.
A ti… por quem errei.
A ti… que foste minha cúmplice.
A ti… por quem me quis apaixonar.
A ti… por quem o destino me fez uma brincadeira macabra.
A ti… por quem naquelas quatro paredes tanto desejei mais um momento.
A ti… com quem não quis um amor civilizado.
A ti… por quem esperei.
A ti… quem tanto esqueci.
A ti… que eras eu.
A ti… que a meio de um amo-te esqueceste-me.
A ti… de quem guardo o gosto, mas tu também levas sabor a mim.
A mim… que em vários dias tentei comprovar para que serve um coração, e acendi um cigarro e outro mais, e tal como estes e com eles, toda a esperança se esfumou.
A mim… por todas essas noites perdidas com alguém a quem não sabia como amar.
A mim… por todas aquelas manhas em que desejei que o ontem volta-se.
A mim… que tantas vontades tive.
A mim… que não esperava nada de ninguém.
A mim… que levo na boca sabor, no corpo cheiro, e na alma, a ti.